A que ponto chegamos?

Artigo cadastrado dia 03/10/2017
Deputado Federal Jefferson Campos comenta performance exibida no MAM (Museu de Arte Moderna), na semana passada

Semana passada aconteceu uma grande celeuma por conta de uma performance exibida no MAM, cujo bailarino nu acabou por ser tocado por uma criança, incentivada por sua própria mãe.

 

Esta é uma questão profundamente polêmica e tentarei fazer uma reflexão equilibrada analisando diversos pontos de vista, mesmo sendo pastor evangélico e tendo um posicionamento bastante rigoroso sobre o assunto.

 

A performance “La Bête”, de única apresentação durante o 35º Panorama de arte Brasileira, exibia o coreógrafo Wagner Schuartz, nu, manipulando uma réplica de plástico de uma das esculturas de uma série chamada Bichos, criada pela artista Lygia Clark, cuja ideia original era que o espectador se tornasse uma figura atuante na obra. Esta série de esculturas foi construída com formas geométricas para que não se parecessem animais, mas que permitissem uma visão livre do que a peça representava. A ideia dela era que os espectadores ultrapassassem os limites da superfície de um quadro. Já o coreografo trouxe este conceito para a sua apresentação convidando os expectadores a interagir com ele, tomando ele o lugar do quadro possivelmente.

 

Segundo o Museu de Arte Moderna, o evento era aberto a visitantes que estivessem no local e havia ali sinalização sobre a nudez na sala onde a performance ocorria.

 

A mãe levou a menina, a mãe a incentivou a tocar o homem.

 

Agora vamos falar sobre contextos.

 

O contexto do Brasil, por ser uma nação bastante sexualizada, é de constante luta contra a prostituição infantil, contra a pedofilia, contra a violência para com menores de idade. Gritamos alto para que nossos menores sejam protegidos. Nosso nordeste litorâneo, infelizmente, é conhecido como rota para turistas estrangeiros conseguirem sexo barato com menores de idade. A escravidão sexual é uma realidade aqui.

 

O trabalho de conscientização é árduo. Agora vos pergunto, cabe em nosso contexto o incentivo dado pela mãe?

 

O que fazer quando uma pessoa ignora todos os avisos e publicamente incentiva uma menor a tocar um homem nu sem medos?

 

A questão aqui não é se a performance dele é ou não erótica, se o conteúdo é ou não pornográfico. A questão aqui é se uma criança, no auge de sua ingenuidade sabe diferenciar um trabalho “artístico” de um homem que deseja abusar dela. Pois, tocar no artista pode, como saber em quem não se pode tocar?

Colegas, nós somos adultos, vividos e experientes, tenho absoluta certeza de que todos nós já fomos enganados por alguém em nossa fase adulta. Imagine uma criança. A questão da criança tocando o artista é que ela abre um precedente. Então existem casos que a criança pode tocar um adulto pelado e outros casos em que não? É confuso. A criança não tem sabedoria nem vivência para discernir entre uma situação e outra.

 

Não entro no mérito de como encarar a nudez e de qual a melhor forma para ensinar para uma criança sobre as diferenças entre um corpo masculino e um feminino, isso cabe aos pais.

 

Dentro de nossa própria nação, em culturas indígenas com pouco ou sem contato com homens brancos, o correto é andar nu. Contudo, mesmo dentro dessas culturas existem normas e regras, criadas por eles mesmos sobre os limites que um integrante da tribo tem com relação ao outro, é bastante rígido e não foi criado por um extremista da direita ou por um liberal da esquerda. Durante toda a trajetória destas aldeias, eles concluíram o que era melhor para a sobrevivência da tribo.

 

Nós, quando alertamos sobre a atitude desta mãe, estamos tentando fazer o mesmo. Não queremos que no Brasil as crianças continuem a ser desrespeitadas. Obviamente, a criança que tocou o homem estará protegida, esperamos que ela nunca sofra um abuso, mas e todas as outras que absorveram o exemplo e que estão vulneráveis?

 

O MAM pode sim exibir nudez, mas não pode permitir que um menor tome parte no espetáculo. Não basta avisar que há cenas de nudez é preciso proibir a entrada de menores. Com uma atitude simples muita confusão poderia ter sido evitada.

 

 

* Artigo extraído de discurso apresentado na Câmara Federal.

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